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Victor Bagy: A Transição de Ídolo a Executivo e a Realidade Financeira do Atlético-MG

Por Redação FutGalo em 25/07/2025 11:13

Há mais de uma década, uma pergunta ressoa na memória atleticana: "O que ocorreu em 31 de maio de 2013?". A resposta é unânime: a conquista inaugural da Copa Libertadores pelo Atlético-MG. E ao indagar sobre o lance mais icônico dessa jornada, a lembrança de uma intervenção providencial nas quartas de final se equipara à própria decisão. Somente um verdadeiro "Santo" poderia imortalizar uma defesa a tal ponto.

A vida de Victor Leandro Bagy foi redefinida após aquele dia. Um bloqueio decisivo ? aos 47 minutos e 57 segundos do segundo tempo, com o pé ? preservou o Galo na disputa, pavimentando o caminho para a semifinal do torneio continental. Um marco não apenas para a instituição mineira, mas para a própria trajetória do goleiro.

Victor enfatiza a persistência desse momento em sua rotina, revelando que é um tema de constante abordagem. "É um assunto que, quase que diariamente, sou abordado por alguém para falar. Impressionante como marcou, porque não só atleticano, mas as pessoas que acompanham o futebol em geral têm esse dia, essa defesa, como um marco", destaca Victor . Ele prossegue, afirmando que sua carreira se divide em dois períodos: "Falo que minha carreira se divide em antes e depois do Tijuana, porque sem dúvida foi um salto. Foi um momento emblemático, marcante, que também me projetou depois para uma Copa do Mundo, para uma seleção brasileira, que eu já tinha um histórico, mas aquele momento foi a consolidação."

Da Goleira à Gestão: A Nova Percepção de Victor Bagy

A lembrança vívida daquela noite perdura para Victor . "Lembro perfeitamente a saída de campo, a legião de repórteres ali, o vestiário. Aquela comoção que encontrei no vestiário, o presidente me aplaudindo, chorando em pé. Acredito que tinha umas 60, 80 pessoas ali no vestiário. Todos pararam o que estavam fazendo para me aplaudir. Isso é marcante, porque o reconhecimento do torcedor é legal, é gratificante, mas o torcedor é passional. Foi um momento realmente muito especial na minha vida."

Do status de "Santo", que inspirou camisas, reverências e bandeiras, Victor evoluiu para a função de dirigente ao encerrar sua carreira como atleta em 2021. Sua ascensão foi de gerente de futebol a executivo do Atlético-MG, assumindo a liderança com a saída de Rodrigo Caetano, seu mentor, para a Seleção Brasileira em 2024.

Com essa nova e desafiadora responsabilidade, Victor passou a compreender que o olhar que antes o via como ídolo agora vinha acompanhado de cobranças. Uma realidade distinta no cotidiano do dirigente. "A abordagem depende da intenção de quem está abordando. Se é um torcedor que quer falar de futebol, que quer falar da defesa, que quer falar das conquistas que tive, vai abordar como 'São Victor ', como goleiro. Agora, às vezes, o torcedor está um pouco chateado, o time não está no nível de performance. Então, ele vai me abordar como diretor, mas sempre com muito respeito."

Desafios Financeiros e a Credibilidade do Galo

A chegada de Paulo Bracks como executivo-chefe de futebol do Atlético manteve Victor em sua função, mas o isentou da liderança direta das negociações. Essa mudança, contudo, não o distancia da complexa realidade do clube, que atualmente atravessa um período de sensibilidade financeira.

É crucial notar que a entrevista de Victor foi concedida antes dos recentes episódios que vieram à tona, como a tentativa do atacante Rony de rescindir seu contrato judicialmente e a revelação de que outros atletas notificaram o clube extrajudicialmente por pendências financeiras. O elenco atleticano tem lidado com atrasos salariais, débitos referentes a direitos de imagem e parcelas de transferências de jogadores ? situações que, embora incomuns anteriormente na SAF atleticana, agora compõem um cenário de incertezas.

Victor pondera sobre a situação geral do futebol brasileiro. "O cenário é preocupante, de uma forma geral, no futebol brasileiro. Não é exclusividade do Atlético. Se você pegar Séries A e B, são poucos os clubes que não têm endividamento ou que têm um endividamento baixo", explica o ex-goleiro. Ele reforça a necessidade de cautela, mas ressalta o histórico recente de pagamentos do clube:

O momento requer certos cuidados. No entanto, o histórico recente do Atlético é de bom pagador. Nós estamos falando de um momento. Estou praticamente há cinco anos nessa função de gestão: três como gerente, agora dois como diretor executivo. Essa pauta de atraso nunca foi pauta na minha mesa, isso é uma coisa recente. O Atlético tem credibilidade no mercado para poder fazer propostas quando entende que assim deve fazer.

? Victor Bagy

Nascido em 21 de janeiro de 1983, Victor Leandro Bagy, aos 42 anos, é um nome que transcende gerações. Sua carreira vitoriosa inclui passagens por clubes como Paulista, Ituano, Grêmio, e o próprio Atlético-MG, além de convocações para a seleção brasileira. Entre suas conquistas mais notáveis estão a Copa das Confederações (2009), a Copa Libertadores (2013), a Recopa Sul-Americana (2014), a Copa do Brasil (2005 e 2014), e múltiplos Campeonatos Mineiros.

Liderança e Transparência: A Abordagem de Victor na Gestão

Questionado sobre como lida com os atrasos salariais, tendo vivenciado essa realidade como atleta, Victor reflete sobre a persistência desse problema no futebol brasileiro. "Essa, infelizmente, é uma realidade do futebol brasileiro. Vivi isso como atleta ? não foi uma, nem duas, foram inúmeras vezes. Claro que todo mundo tem seus compromissos financeiros, compromissos pessoais, mas você tem um nome, uma família e uma instituição a zelar."

Ele sublinha seu papel atual: "Acho que é sempre importante, estando do lado de cá, buscar dar essa blindagem ao atleta. Esse é o meu papel, é blindar o atleta para que ele esteja focado 100% no campo." A comunicação transparente é fundamental, segundo ele: "É importante tranquilizá-los, saber que existe gente trabalhando, existe seriedade, que o clube tem suas prioridades e estar com as contas em dia é uma delas. Não falta comunicação, nem discernimento da nossa parte."

Sobre a preocupação com a situação financeira do Atlético, Victor reitera a visão panorâmica. "O cenário é preocupante, de uma forma geral, no futebol brasileiro. Problemas financeiros não são exclusividade do Atlético. Se você observar as Séries A e B hoje, verá que são poucos os clubes sem dívidas ou com baixo nível de endividamento. Mas acho que é importante essa transparência, alinhar as expectativas, entender que o momento requer um pouco mais de cuidado." A diretoria, segundo ele, está focada em ajustes: "Hoje, estamos proibidos de aumentar o endividamento do clube. É questão de ajustes, questão de você ser mais eficiente naquilo que você gasta. E se for o caso de realmente ter que diminuir um pouco o orçamento para lá na frente você poder tornar o clube mais forte, esportivamente, temos que entender."

A meta é clara: "Temos um clube sustentável, um clube que vai sempre manter o nível competitivo dentro da nossa realidade financeira. O recado foi muito bem passado, acho que o torcedor também entendeu isso. Por mais que ele (torcedor) crie expectativas ? às vezes, de grandes investimentos ? antes de mais nada é importante ter responsabilidade. E é pautado nisso que a gente trabalha."

Diálogo com a Imprensa e Mudanças de Comando

Ao ser questionado sobre como lida com a imprensa e as críticas, Victor revela uma gestão de tempo pragmática: "O nosso tempo é tão corrido, tão precioso, que, às vezes, eu não tenho tempo e não gasto a energia com críticas que não são construtivas. Dentro da minha gestão de tempo, com apoio da minha assessoria e da equipe do clube, peço que façam um filtro, até para eu saber o que está acontecendo. Preciso dessas informações. Até para fazer em algum momento alguma gestão de crise é importante."

Sua transição para a gestão foi natural, dada sua formação prévia. "Ainda nem tinha minha carreira consolidada quando fazia faculdade de Educação Física em Jundiaí. Eu me formei com 22 anos, pensando também como um plano B, uma alternativa para minha carreira, para trabalhar no futebol. Mesmo alcançando os níveis de performance que consegui, eu sempre procurei estudar, ler, fiz alguns cursos de gestão, buscando outros idiomas também, alguns conhecimentos na área de economia. O atleta tem a tendência de pensar muito no hoje e, às vezes, não programa seu pós carreira."

A influência de Rodrigo Caetano foi decisiva em sua transição. "Sempre brinco: foi ele que começou a minha carreira. Ele que me levou para o Grêmio em 2007/2008, e ele que encerrou minha carreira. Quando ele chegou ao Atlético, a gente reforçou ainda mais esse vínculo. Eu já estava em um processo de final de contrato, ainda não estava muito claro o que eu ia fazer dali para frente", explica Victor . Ele conclui: "Tinha algumas propostas na mesa de outros clubes (...) e veio o convite de fazer o jogo de despedida e em seguida ingressar como gerente de futebol. Ele foi um grande incentivador, por ter identificado esse perfil e acreditado em mim. Foram três anos de muito aprendizado. Me deu bastante repertório no que se refere às demandas diárias do futebol e fiquei muito feliz quando ele foi anunciado como diretor de seleções da CBF."

A chegada de Paulo Bracks não alterou significativamente sua rotina, mas trouxe uma nova dinâmica. "Uma experiência bastante tranquila. A gente está sempre muito alinhado. O que é construído em termos de futebol, de tomada de decisões, sempre passa por nós dois. Falamos todos os dias. Às vezes, temos pontos de divergência, o que é muito bom, porque cada um consegue colocar um ponto de vista."

Momentos Decisivos: Da Final da Libertadores à Copa do Mundo

Recordando a final da Libertadores de 2024, Victor descreve um ambiente de profunda frustração. "Uma frustração muito grande. Você ter um jogador adversário expulso com 30 segundos de jogo, gera uma expectativa muito grande de que as coisas vão caminhar de forma positiva. Ao mesmo tempo, é um tipo de situação que a gente não trabalha no dia a dia."

Ele detalha a complexidade tática: "Como é que você vai imaginar um jogador adversário expulso com 30 segundos? Não é uma situação que você trabalha, você trabalha em cima do que o adversário faz. Nós tínhamos um plano de jogo, que simplesmente derreteu com 30 segundos. O que era para ser uma estratégia, talvez, virou uma dificuldade." Apesar da derrota, ele se apega às oportunidades criadas: "Tivemos que propor mais o jogo. A ideia era ter o jogo, às vezes, um pouco mais reativo, até pela velocidade que o Botafogo tinha. No segundo tempo, até que conseguimos criar mais oportunidades. Futebol vai do céu ao inferno. Talvez hoje duas ou três situações ali, se a bola entrasse, nós estaríamos falando da conquista. Tivemos situações claras."

O ambiente no vestiário era de "consternação, de tristeza, de frustração, porque esteve muito próximo. A gente trabalhou tanto. Muitos não acreditavam que a gente poderia chegar a duas finais, e a gente fez isso. Na final, houve uma manifestação já do Milito (para sair do clube). Pedi que ele seguisse conosco até o final, pois nós tínhamos outra missão, que era concluir o Brasileiro." Victor reconhece o desgaste: "Era um momento no qual todo mundo, seja comissão técnica, eu, jogador, todo mundo já estava esgotado mentalmente, porque foi um ano muito intenso. O ultimo jogo do ano, sem torcida, contra o Athletico... Não podendo perder, para evitar um rebaixamento, foi um momento difícil. Talvez tenha ficado a frustração, porque todo mundo quer ganhar, mas acho que fracasso acaba sendo uma palavra pesada para descrever a temporada passada."

A demissão de treinadores é um dos momentos mais difíceis para um diretor. "É um momento sempre muito difícil na carreira de um diretor. Mas antes disso, um dos primeiros grandes desafios foi comunicar o Felipão da saída dele. Foi logo na minha primeira semana. E o Felipão foi o treinador que me levou para uma Copa do Mundo. Mas por sorte, ou felizmente, o Felipão, além de ser um excelente treinador, é uma pessoa de altíssimo nível. Foi super tranquilo, super compreensivo."

Sobre Milito, Victor tece elogios: "Milito é muito bom treinador, muito acessível, dia a dia muito bom, um treinador que consegue ter esse equilíbrio entre cobrança e amizade com os atletas. Não foi uma decisão somente minha, mas foi uma conversa que nós tivemos. O momento foi desgastante, foi difícil, mas que terminou de forma leve e mantive a boa relação com o Milito."

Memórias Históricas e o Legado no Futebol

Questionado sobre segredos da final da Libertadores de 2013, Victor afirma que o tema é exaustivamente abordado. "Acho que não. É um assunto que quase que diariamente eu sou abordado por alguém para falar. Impressionante como marcou (a defesa de pênalti nas quartas de final da Libertadores). A gente percebe que foi um momento que não marcou só a minha carreira. Minha carreira se divide antes e depois do Tijuana." A emoção daquela noite é inesquecível: "Lembro perfeitamente da saída de campo, a legião de repórteres ali, o vestiário. Aquela comoção que encontrei no vestiário, o presidente me aplaudindo, chorando em pé. Havia cerca de 60, 80 pessoas ali dentro do vestiário. Todos pararam o que estavam fazendo para me aplaudir. Foi uma noite que eu praticamente não dormi, mas foi uma insônia muito gostosa."

Analisando a derrota no Mundial de Clubes de 2013, Victor aponta o cansaço como fator. "Recentemente o treinador do Chelsea falou de temporada, de cansaço físico, de maratona de jogos. Em 2013 nós estávamos no final de temporada. Talvez o cansaço físico e mental que vivemos por conta das competições... Ela gera um nível de ativação menor do que necessita para esse tipo de competição. O planejamento foi feito, o trabalho foi feito. Não estou aqui para apontar culpados. Quando se ganha, ganha todo mundo, quando se perde, perde todo mundo. Tivemos nossos descuidos e acabamos ali tendo aquela infelicidade." Ele descarta o fator extracampo, como a saída de Cuca, como determinante: "Acho que não. Quando você disputa o campeonato mundial, o foco é um só. Os problemas que eventualmente você pode ter são secundários. A importância da competição está acima de qualquer coisa. Como eu falei, não existe um culpado, existem culpados. Todos que estavam ali tinham sua parcela. E me incluo também."

A participação na Copa do Mundo de 2014 é descrita como "uma experiência fantástica, um dos períodos da minha vida mais intensos no sentido de trabalho, de concentração, de envolvimento." Apesar do desfecho doloroso do torneio, ele mantém a perspectiva: "Infelizmente acabou de uma forma dolorosa, que marcou negativamente, em um dia infeliz, que as coisas não deram certo para nós. A questão mental teve um peso muito grande. É o tipo de jogo que jamais vai acontecer na história. Infelizmente, eu estava lá, fiz parte desse momento triste, mas também carrego coisas boas e muita gratidão."

O Futuro e o Legado no Atlético-MG

Ao refletir sobre os grandes ídolos do Atlético, como Ronaldinho, Hulk, Reinaldo e ele próprio, Victor se sente honrado: "Eu me sinto privilegiado em poder fazer parte desse hall de jogadores históricos de um clube com tamanha grandeza, com tamanha história. É difícil você colocar um maior. Eu acho que cada jogador que você falou, e me incluo também, tem sua importância dentro de um processo, dentro de um período."

Ele complementa a análise sobre os ícones do clube: "O Reinaldo foi um cara, é o maior artilheiro da história do Atlético, acho que foi o grande exponencial inicial. Depois veio essa geração da qual participei. Você também citou o Ronaldinho. Podemos falar em outros grandes nomes, como Tardelli, Réver, Léo Silva, Pierre, Donizete, enfim, aquela equipe maravilhosa de 2013. O Hulk recentemente está fazendo um trabalho absurdo dentro de campo. Para mim, é o grande nome dessa última geração. Então, cada jogador tem sua importância histórica."

Sobre possíveis sondagens para deixar o Atlético em sua função de dirigente, Victor reconhece o reconhecimento do mercado. "O mercado já consegue enxergar o Victor como um profissional do futebol, não só um funcionário do Atlético. O futebol é muito dinâmico. No entanto, eu não fico pensando nisso para não sofrer. O telefone toca, mas eu aceitei esse desafio no Atlético não só pela questão financeira. É por uma questão de entender que eu posso, dentro do meu conhecimento de clube, dentro da minha capacidade. Eu quero deixar um legado para que o Atlético seja cada vez maior e cada vez mais vitorioso."

Ele compreende a natureza cíclica do futebol: "Claro que são ciclos, nada é eterno, mas no momento que isso acontecer, de uma saída...ainda mais quando se trabalha em uma área de tanta exposição e de tanto desgaste como é a minha área. Isso inevitavelmente vai acontecer (sair do Atlético). É normal. A hora que isso acontecer, quero poder olhar para trás e falar: 'Poxa, eu deixei algo muito bom aqui'."

O maior objetivo de Victor como dirigente é a construção de um legado duradouro. "O meu grande objetivo é construir um legado a médio e longo prazo. É construir realmente um trabalho de excelência, deixar um legado, deixar o clube melhor do que quando eu cheguei. E estou cercado de pessoas que têm esse mesmo pensamento, isso é importante também." Para ele, o sucesso é coletivo: "As metas são institucionais. Se o clube estiver bem, estiver brigando por títulos, estiver saudável... é o que importa. Dessa forma, o meu trabalho vai ser reconhecido."

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