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Reinaldo: Anistia Política do Ídolo do Atlético e a Luta Contra a Ditadura Militar
Por Redação FutGalo em 02/12/2025 12:42
A história do futebol brasileiro é rica em talentos que transcenderam as quatro linhas, e poucos exemplificam essa fusão de arte e ativismo como Reinaldo. O maior artilheiro do Atlético Mineiro, com seus notáveis 255 gols, não apenas deslumbrava com sua habilidade ímpar, mas também desafiava o status quo com um gesto simples, porém poderoso: o punho esquerdo erguido. Este ato, inspirado no movimento Panteras Negras, era um manifesto contundente contra o racismo e uma clara mensagem política de oposição ao regime militar que então governava o Brasil.
A postura inabalável de Reinaldo, que se recusava a calar-se diante da opressão, transformou-o em um alvo. Ele próprio relatou à Comissão de Anistia as retaliações diretas que sofreu. É sabido que sua participação na final do Campeonato Brasileiro de 1977, defendendo as cores do Galo, teria sido impedida por militares e dirigentes da antiga Confederação Brasileira de Desportos (CBD). Naquele período, o atleta já se manifestava abertamente pela redemocratização do país, clamando por eleições diretas e o fim do autoritarismo.
Mesmo após um alerta direto do então ditador Ernesto Geisel, que, segundo Reinaldo, teria sentenciado: "Jogue bola; deixe a política para a gente.", o ídolo atleticano manteve sua convicção. A ousadia de erguer o punho novamente após marcar um gol pela seleção brasileira na Copa de 1978 intensificou a vigilância e a pressão sobre sua carreira, evidenciando o custo pessoal de sua militância.
O Reconhecimento Tardio da Perseguição Política
Nesta terça-feira, 2 de abril, a Comissão de Anistia, em um ato de justiça histórica, aprovou o pedido de anistia política formulado pelo ex-atacante. A decisão oficializa o reconhecimento de que Reinaldo foi, de fato, perseguido pelo Estado brasileiro em virtude de suas manifestações públicas contra a ditadura militar. Mais do que um perdão estatal, este é um atestado da coragem de um homem que usou sua plataforma para lutar por ideais democráticos.
Como parte da reparação, o colegiado também autorizou o pagamento de uma indenização no valor de R$ 100 mil ao ex-jogador. Este montante visa compensar nove períodos de perseguição que se estenderam de março de 1978 a outubro de 1986, abrangendo um tempo significativo de sua vida profissional e pessoal sob o escrutínio do regime.
O Gesto Eterno: Símbolo de Reparação e Memória
A cerimônia de reconhecimento, realizada em Brasília, foi marcada por um momento de profunda emoção e simbolismo. A ministra dos Direitos Humanos, Macaé Evaristo, proferiu o pedido de desculpas em nome do Estado brasileiro, um gesto fundamental para a construção da memória e da verdade. A resposta de Reinaldo foi a mais autêntica possível: com os olhos mareados, ele ergueu o punho cerrado, o mesmo gesto que pontuou sua carreira e simbolizou sua resistência.
A sala inteira, comovida, acompanhou o ídolo atleticano, repetindo o gesto em uníssono. Foi um instante de reconhecimento coletivo, uma reafirmação de que a luta por justiça e liberdade, mesmo que tardia, encontra seu eco. A anistia a Reinaldo não é apenas um capítulo encerrado em sua biografia; é um lembrete vívido da importância de defender a democracia e da necessidade de o Estado confrontar seu próprio passado, reparando as injustiças cometidas em nome do poder.
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