Hulk no Atlético: O Legado de um Ídolo e a Busca pelo Trono Histórico

O eterno debate entre os entusiastas do Atlético Mineiro a respeito do panteão de ídolos do clube — Hulk, Ronaldinho e Reinaldo — parece estar à beira de uma resolução definitiva. A hierarquia entre esses titãs do futebol alvinegro é um tema que incendeia discussões, mas Givanildo Vieira de Souza, conhecido mundialmente como Hulk, pode em breve apresentar o argumento mais contundente para ocupar o topo isolado desse pódio.

A oportunidade de ouro se desenha neste sábado, quando o Atlético Mineiro enfrentará o Lanús, da Argentina, na grande final da Copa Sul-Americana, em Assunção. Aos 39 anos, o capitão do Galo tem a chance de levantar um troféu continental inédito em sua passagem pelo clube de Belo Horizonte, um feito que, para muitos, selaria sua consagração como a figura mais reverenciada na rica história atleticana.

A disputa pelo posto de maior ídolo, contudo, é acirrada. Ronaldinho Gaúcho, com seu brilho inconfundível, foi o maestro da única conquista da Copa Libertadores pelo Mineiro, em 2013, um período em que suas acrobacias encantavam torcedores globais. Reinaldo, por sua vez, é uma lenda viva, o artilheiro supremo do Galo, com impressionantes 255 gols, um recorde que permanece intocado.

Hulk, desde sua chegada, tem reescrito recordes. Ele ostenta o título de maior goleador do Atlético no século XXI, com 134 gols em 283 partidas. Sua galeria de títulos inclui o Campeonato Brasileiro de 2021, a Copa do Brasil e uma Supercopa. A Copa Sul-Americana, embora o segundo torneio mais prestigiado do continente, é vista por muitos como o elo que falta para solidificar sua supremacia.

A seguir, um panorama dos feitos que moldam a discussão sobre a maior idolatria:

Para Vinícius França, profissional de marketing esportivo de 25 anos e fervoroso atleticano, a conquista da Sul-Americana tem um peso histórico imenso. "se ganharmos a Copa Sul-Americana, acho que o Hulk se coroará como o maior ídolo da nossa história", declara à AFP. Tiago França Louvera, analista financeiro de 28 anos, vai além, afirmando que a questão já está, em sua percepção, resolvida. "Se o Atlético vencer a Sul-Americana, será apenas mais um passo, um detalhe para torná-lo o maior ídolo da história. Para mim, ele já é, mas isso colocará o laço final", pontua Louvera.

Hulk: Mais Que um Jogador, um Fenômeno Alvinegro

Em Belo Horizonte, o codinome "Hulk" transcende a figura do super-herói dos quadrinhos da Marvel para designar um atleta de constituição impressionante, com mais de 90 kg de pura força. Sua chegada ao Mineiro em 2023, após uma carreira notável por clubes como Porto, Zenit e passagens pelo futebol japonês, marcou o início de uma era de profunda identificação com a massa atleticana.

O ano de 2024 quase o levou ao Olimpo atleticano. A final da Copa Libertadores, disputada com o Botafogo, era a chance de imortalização. Contudo, a derrota por 3 a 1, mesmo com o Galo tendo um jogador a mais desde os minutos iniciais, representou um revés doloroso.

Aquele momento, segundo o próprio Hulk, foi um dos mais amargos de sua trajetória. "Pagamos um preço alto, uma oportunidade única de ganhar a Libertadores; infelizmente, não fomos capazes de aproveitar", lamentou o jogador na ocasião. Meses depois, em uma entrevista, ele confessou que aquela experiência foi algo que "não quero viver nunca mais na vida". A Sul-Americana surge, portanto, como uma chance de redenção e de concretização de um legado.

Ronaldinho e o Brilho Fugaz de uma Lenda

A campanha do Galo em 2013, sob a batuta de Ronaldinho e a liderança de Cuca, foi um espetáculo que arrebatou o continente, culminando na única Libertadores do clube. O "Bruxo" encantou com sua magia, mas sua ligação com as cores preto e branco não se consolidou de forma perene.

A identificação plena de Ronaldinho com o Atlético-MG é um ponto de debate. Sua saída para o Querétaro, do México, apenas um ano após a glória continental, e o encerramento da carreira no Fluminense, seu quarto clube brasileiro, demonstram uma trajetória mais itinerante em solo nacional.

Em contraste, Hulk tem demonstrado uma lealdade quase singular. No Brasil, vestiu apenas a camisa do Vitória, no início de sua carreira, antes de sua chegada definitiva ao Atlético. Essa dedicação é um fator crucial na percepção dos torcedores. "Ronaldinho teve sua importância, mas se olharmos o contexto geral, o que o Hulk vem fazendo todos esses anos, desde que chegou ao Atlético, é algo sobrenatural", avalia o torcedor Wenderson Diniz, de 26 anos.

Reinaldo: O Rei, a História e as Controvérsias

As comparações com Reinaldo nos transportam a uma era distinta. Entre 1973 e 1985, ele não só estabeleceu o recorde de gols pelo Galo, mas também se tornou um estandarte de resistência em um período dominado pelos grandes clubes de São Paulo e do Rio de Janeiro. Sua figura transcendeu o campo, tornando-se um símbolo social na luta contra a ditadura (1964-1985).

No entanto, a idolatria por Reinaldo não é isenta de questionamentos para parte da torcida. O fato de ter defendido o maior rival, o Cruzeiro, e a confissão, após a aposentadoria, de que gostaria de ter jogado pelo Flamengo, são episódios que, para alguns, diminuem o brilho de sua lenda. "Isso diminuiu a idolatria por Reinaldo", afirma o torcedor Vinícius França.

Diante desses contrastes, a figura de Hulk emerge com uma força particular. "Hulk é um jogador acima da média, fora do comum na nossa história", reitera Vinícius França. Sua entrega, performance e a iminência de mais uma taça continental o colocam em uma posição ímpar.

A final da Sul-Americana não é apenas a busca por um troféu, mas a oportunidade de Hulk cravar seu nome, de forma irrefutável, no pináculo da galeria de ídolos do Atlético Mineiro. "Hulk significa grandeza para mim", conclui Tiago França Louvera, sintetizando o sentimento de uma nação alvinegra que anseia por ver seu capitão erguer mais uma taça e, talvez, o cetro de maior de todos.