Hulk no Atlético: Comentaristas Decifram o Enigma da Posição e Performance

O cenário atual de Hulk no Atlético-MG tem gerado intensos debates e preocupações entre a torcida e a imprensa especializada. O atacante, figura central e artilheiro do clube, expressou abertamente sua insatisfação com a maneira como tem sido utilizado pelo técnico Jorge Sampaoli, alegando estar atuando fora de sua posição ideal. Essa percepção do camisa sete surge como uma possível justificativa para sua recente seca de gols, que já se estende por quatro partidas. A questão central é: essa mudança tática é realmente o motor de sua irregularidade na temporada?

Para desvendar esse complexo panorama, o site ouviu a análise de renomados comentaristas, buscando compreender se a reclamação de Hulk procede e qual o impacto real da configuração tática em seu desempenho. A trajetória do jogador no Galo, desde sua chegada, sempre foi marcada por uma parceria no ataque, seja ao lado de Diego Costa em momentos cruciais de 2021, ou formando uma dupla eficiente com Paulinho em temporadas recentes.

O Histórico de Hulk e a Nova Dinâmica no Ataque

A configuração tática que isola Hulk na frente não é uma novidade exclusiva da gestão Sampaoli. Sob o comando de Cuca, o atacante também operava sem um parceiro direto, tendo dois jogadores mais abertos em sua retaguarda. Esse desenho tático, com meias mais próximos de Hulk , mas sem uma referência ao seu lado, tem sido uma constante na atual fase do Atlético, o que levanta questões sobre a adaptabilidade do jogador e a eficácia do sistema.

Em termos de produção, o ano de Hulk é notável pela quantidade de jogos disputados ? 61 partidas, seis a mais que no ano anterior. Ele mantém o posto de artilheiro do clube, com 20 gols e sete assistências. No entanto, é inegável que houve um declínio em seus números, especialmente quando se trata de participações com a bola rolando e a frequência de balançar as redes. Os dados, embora ainda bons, indicam uma desaceleração em sua performance geral.

A Visão dos Especialistas: Posição ou Desgaste?

Henrique Fernandes, um dos analistas consultados, corrobora a percepção de Hulk sobre a importância de ter um companheiro no ataque. Segundo ele, o atacante sempre obteve melhor rendimento no Galo quando dividia as atenções dos defensores, o que gerava espaços valiosos para sua exploração. Contudo, Fernandes pontua que a questão vai além da tática: "É verdade que Hulk sempre rendeu melhor no Galo atuando como dupla de ataque, principalmente. Era assim nos momentos decisivos de 2021 com Diego Costa, foi assim no ótimo encaixe com Paulinho nas temporadas recentes. Para ele, sempre foi benéfico ter alguém para dividir atenções com os defensores adversários e gerando espaços que ele sempre soube explorar. A questão é que Hulk apresentou uma queda física e técnica bem clara nesse ano. Jogou mais vezes mal do que bem, inclusive quando Cuca era o treinador."

Ele complementa que a função mais avançada, com Hulk mais isolado, pode ser uma tentativa de recuperá-lo, permitindo-lhe focar na finalização e atuar mais próximo do gol, sem a necessidade de participar tanto da marcação. A adaptação a essa nova demanda e a carência de uma maior produção da equipe para municiá-lo seriam os desafios principais.

O Modelo de Jogo de Sampaoli em Análise

Rodrigo Coutinho, por sua vez, apresenta uma perspectiva distinta. Para ele, Hulk não está necessariamente "fora de posição". O comentarista argumenta que o atacante tem atuado na mesma região do campo que o consagrou no Atlético: centralizado no ataque, sem a obrigação de recuar para marcar pelas laterais. A diferença, segundo Coutinho, reside no "modelo do time" sob o comando de Sampaoli. "Fora de posição ele não está jogando. Ele tem jogado, inclusive, na mesma posição que jogou nos melhores momentos pelo Atlético: pelo centro do ataque e sem obrigação de voltar para marcar pelo lado. É o homem mais avançado do time. O que muda é o modelo do time. Com Sampaoli, os atacantes, trocam menos de posição, eles obedecem a um setor específico do campo. Talvez, isso tenha feito que ele tenha dificuldade para se adaptar."

Coutinho detalha que, nesse esquema, a linha de ataque com Dudu pela esquerda, Rony pela direita e três jogadores pelo meio (Hulk centralizado, Bernard à direita e Arana à esquerda) faz com que Hulk fique mais fixo. Isso o leva a receber a bola frequentemente de costas para o gol, com menor liberdade para trocar de posições, embora seu ponto de partida seja o mesmo de outras fases de sucesso no clube.

A Busca por Mobilidade e Referência no Ataque

Pedro Moreno, outro especialista, oferece uma visão que transita entre as anteriores. Ele concorda que a formação recente de Sampaoli, com alas abertos e Bernard e Dudu mais centralizados, coloca Hulk em uma posição muito centralizada, limitando sua mobilidade. Essa característica é crucial para o atacante, que além de sua força física e capacidade de arrancada, possui qualidade técnica para auxiliar na articulação do jogo. "De fato, nessa formação mais recente de Sampaoli, com alas abertos e Bernard com Dudu um pouco mais por dentro, o Hulk tem atuado muito centralizado, perdendo um pouco da mobilidade que é característica dele. Pois, além da força física para arrancar e conduzir, também tem muita qualidade técnica para auxiliar na articulação do jogo."

Moreno sugere, no entanto, que o problema pode ser mitigado com o desenvolvimento de dinâmicas de movimentação. Tais ajustes permitiriam a Hulk maior liberdade para circular pelo campo, sem que o time perca uma referência no ataque. Isso evitaria que ele atue "encaixotado" pela marcação adversária, recebendo a bola de costas e sem espaço para explorar suas qualidades.

Conclusão: Um Desafio Tático e de Adaptação

A discussão em torno da função de Hulk no Atlético-MG revela um desafio tático complexo para Jorge Sampaoli e um período de adaptação para o próprio jogador. Enquanto alguns analistas apontam para um desgaste físico e técnico como principal fator, outros focam na rigidez do novo modelo de jogo. A busca por um equilíbrio que permita a Hulk reencontrar sua melhor forma, explorando sua mobilidade e poder de finalização, sem comprometer a estrutura tática da equipe, será crucial para o desempenho do Galo nas próximas partidas. A capacidade de Sampaoli em ajustar o sistema e a de Hulk em se adaptar a novas demandas serão postas à prova neste momento decisivo.