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Dorival Júnior no Atlético-MG: Análise da Passagem, "Tropa de Elite" e Desafios
Por Redação FutGalo em 24/05/2025 03:11
O reencontro do Atlético-MG com o técnico Dorival Júnior, agora à frente do Corinthians, evoca memórias de uma gestão matizada por nuances e desafios. Embora sua passagem pelo Alvinegro Mineiro, entre o final de 2010 e parte de 2011, tenha sido pontuada por momentos de glória e superação, o desfecho deixou um amargo sabor de incompletude para o próprio treinador.
Ao deixar o comando atleticano em agosto de 2011, Dorival expressou abertamente seu sentimento de decepção. Em declarações à imprensa da época, ele sublinhou a singularidade daquela experiência em sua trajetória profissional: "Sentimento de frustração bem grande. Foi meu primeiro trabalho depois de oito anos como profissional que não conseguimos, em um momento como esse, proporcionarmos algum retorno ao clube. Infelizmente, acabou acontecendo no Atlético, onde eu, mais do que ninguém, queria dar resultado à equipe, pela torcida e pelo trabalho da diretoria."
Dorival Júnior aportou na Cidade do Galo em setembro de 2010, assumindo a vaga deixada por Vanderlei Luxemburgo. O cenário era de alta complexidade: a equipe se encontrava em uma delicada posição na tabela do Campeonato Brasileiro, ameaçada pelo descenso. Sua missão primordial, a 14 rodadas do término da competição, era justamente afastar o fantasma da Série B, um objetivo que, de fato, foi alcançado com êxito.
Apesar do sucesso inicial em manter o clube na elite, o contrato que se estenderia até o final de 2011 não foi integralmente cumprido. A temporada seguinte, 2011, revelaria uma dinâmica de altos e baixos, com a relação entre a comissão técnica, a diretoria e os atletas se tornando cada vez mais intrincada.
A Vitórias Icônicas e a Força do Batalhão de Elite
Um dos capítulos mais memoráveis da gestão Dorival foi, sem dúvida, a épica vitória por 4 a 3 sobre o Cruzeiro, então líder do Brasileirão, em Uberlândia, no encerramento de 2010. A partida, que contava com Cuca no banco do rival e o atacante Obina em tarde inspiradíssima, autor de três dos quatro gols atleticanos, além de um de Réver, é lembrada até hoje pela dramaticidade e pelo impacto psicológico.
O que tornou esse triunfo ainda mais singular foi a estratégia motivacional adotada pelo técnico. Dorival Júnior convidou Paulo Storani, um ex-capitão do BOPE, a renomada unidade de operações especiais da Polícia Militar, para proferir uma palestra ao elenco antes do confronto. A iniciativa surtiu efeito imediato, energizando os jogadores. O próprio Obina, em um gesto que se tornou icônico, solicitou a canção "Tropa de Elite" no programa Fantástico, consolidando o simbolismo daquela vitória. O treinador, à época, elucidou a intenção por trás da ação: "Fazer com que o atleta tenha a vontade de querer vencer, acima de tudo, buscar superação, ir acima dos seus limites, até porque aquilo se faz em uma polícia especializada, como o BOPE, é justamente isso."

Oscilações e a Gestão de Elenco Desafiadora
Apesar do brilho de momentos como o clássico, o ano de 2011 sob a batuta de Dorival foi marcado por uma série de reveses. A eliminação precoce na Copa do Brasil diante do Grêmio Prudente e a derrota na final do Campeonato Mineiro para o arquirrival Cruzeiro foram golpes significativos. No Brasileirão, a equipe demonstrava uma inconsistência preocupante, refletindo um ambiente interno que se deteriorava progressivamente.
A gestão de elenco se tornou um ponto nevrálgico. Após a queda na Copa do Brasil, o treinador não hesitou em realizar cobranças públicas, notadamente ao meia-atacante Daniel Carvalho. Esse período também coincidiu com perdas importantes no plantel, como as saídas de Diego Tardelli e Obina, negociados com o futebol chinês e russo, respectivamente. Outros atletas, como Diego Souza, que pleiteou sua transferência para o Vasco, e Jóbson, que retornou ao Botafogo após um afastamento por atraso na reapresentação, também deixaram o clube, fragmentando ainda mais a estrutura da equipe.
A postura de Dorival em relação a Daniel Carvalho revelava uma exigência por mais comprometimento físico e técnico: "O Daniel, ele tem que botar na cabeça que ele quer. É um grande jogador, não tenho dúvida. Agora, ele ainda está um pouco distante da sua melhor condição. Ele só vai jogar a partir do momento que estiver em condições, atleticamente falando, de suportar o jogo, sendo participativo pela exigência de uma partida."
Hierarquia, Saídas e a Ascensão de Jovens Talentos
A inflexibilidade do treinador em relação à disciplina e à hierarquia resultou em decisões drásticas. Após as cobranças a Daniel, os zagueiros Zé Luís e Ricardinho foram desligados do clube. Alexandre Kalil, então presidente do Atlético, justificou as dispensas como uma medida para preservar a autoridade do comando técnico. "Não vou dizer o que eles falavam ou faziam, acontece que o questionamento ao treinador quando não é feito diretamente a ele soa muito mal. Então, quando se questiona o trabalho, os horários de treinamentos, as viagens, com terceiros, normalmente o treinador não gosta, então isso é feito com pouco de maldade, enfim, basicamente foi isso que aconteceu", declarou Kalil à época, evidenciando as fissuras internas.
Contudo, a passagem de Dorival Júnior pelo Galo também é creditada por um marco importante: a estreia do jovem Bernard. Em 2011, em um confronto contra o Uberaba na Arena do Jacaré, o técnico foi compelido a improvisar o promissor atleta na lateral direita, dada a escassez de opções devido a lesões e suspensões. Embora Bernard tenha explodido de fato sob a direção de Cuca no final de 2011 e em 2012, foi Dorival quem lhe deu a primeira oportunidade no time principal. Após a partida de estreia, o treinador não poupou elogios, afirmando que o desempenho do garoto "Foi até acima do que esperávamos".
Apesar do sentimento de frustração que marcou seu adeus, a gestão de Dorival Júnior no Atlético-MG, totalizando 52 jogos, permanece como um período de contrastes. Uma época de desafios superados, vitórias emblemáticas, mas também de atritos na gestão de grupo e a incapacidade de consolidar um projeto de longo prazo. Seu reencontro com o clube é um lembrete vívido da complexidade e das nuances que permeiam a vida de um grande treinador no futebol brasileiro.
Mais recentemente, em sua função como técnico da seleção brasileira, Dorival esteve presente na Arena MRV no ano passado para acompanhar um clássico contra o Cruzeiro, sendo calorosamente recebido e presenteado com uma camisa do clube, um gesto que sela a memória, por mais multifacetada que seja, de sua trajetória em Minas Gerais.
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