Dívidas Milionárias no Futebol Brasileiro: O Desabafo do Cuiabá e os Clubes Devedores

O presidente do Cuiabá, Cristiano Dresch, recentemente expressou sua profunda insatisfação com as consideráveis obrigações financeiras que pairam sobre o clube mato-grossense. Em uma revelação exclusiva, o dirigente detalhou que o somatório de débitos de quatro das mais proeminentes agremiações do futebol nacional ? Corinthians, Santos, Grêmio e Atlético-MG ? já ultrapassa a marca dos 40 milhões de reais. Esta situação não é inédita; o líder do Dourado tem se manifestado repetidamente sobre os desafios fiscais desde a temporada anterior, recorrendo sistematicamente à Câmara Nacional de Resolução de Disputas (CNRD) para buscar uma solução definitiva para essas pendências.

A Realidade Financeira do Cuiabá e o Impacto das Dívidas

Os atrasos nos repasses, conforme sublinhado por Dresch, comprometem diretamente a estabilidade financeira do Cuiabá, um clube que atualmente disputa a Série B do Campeonato Brasileiro. A ausência desses recursos essenciais tem forçado a diretoria a buscar alternativas no mercado financeiro para honrar seus compromissos e manter o fluxo de caixa. Essa dependência de financiamentos externos, em contraste com a percepção de que os clubes devedores continuam a investir e contratar, gera uma frustração evidente.

A gente ouve todo dia que esses clubes estão contratando, gastando, investindo... E nós aqui, numa realidade de Série B, muito difícil, precisando do dinheiro, tendo que recorrer ao mercado financeiro para poder honrar o nosso fluxo de caixa.

Foto: (Jogada10)

Mudança de Paradigma: A Política de Negociações do Dourado

Diante desse cenário de inadimplência recorrente, o presidente do Cuiabá manifestou uma postura rigorosa em relação a futuras transferências de atletas. A credibilidade e a pontualidade nos pagamentos tornaram-se critérios inegociáveis para o clube mato-grossense ao negociar jogadores. Dresch questiona a lógica de vender atletas para entidades que já possuem dívidas pendentes, sugerindo que o Cuiabá buscará parcerias com clubes financeiramente estáveis e bem organizados, citando o Red Bull Bragantino como um exemplo positivo. Para o Cuiabá, em sua trajetória de ascensão, a venda de jogadores ? seja por meio de formação, captação ou aquisição para revenda ? é vista como a principal via para o crescimento e a mudança de patamar no cenário futebolístico nacional.

Como eu vou vender jogador para um clube que me deve? Isso nem tem cabimento. Acho que a gente tem outras opções, clubes sérios, organizados. Cito, por exemplo, o Red Bull Bragantino.

Os Principais Devedores: Uma Análise Detalhada das Pendências

As quatro grandes agremiações envolvidas nas significativas dívidas com o Cuiabá são o Atlético-MG, o Grêmio, o Santos e o Corinthians. Cada caso apresenta particularidades, mas a soma de todas essas pendências gera um quadro preocupante para a saúde financeira do clube mato-grossense.

Atlético-MG: A Questão Deyverson e a Quebra de Confiança

No que tange ao caso do atacante Deyverson, o presidente do Cuiabá expressou a expectativa por uma decisão judicial ainda em 2024. Informações da CNRD indicam que uma sentença deve ser proferida até setembro ou outubro, com a provável condenação do Atlético-MG ao pagamento. A conduta do clube mineiro gerou particular frustração em Dresch, que recordou a confiança depositada na reputação de seus gestores no momento da negociação.

Temos o caso do Deyverson, que também é uma situação emblemática com o Atlético Mineiro. A gente espera ? e tive uma informação da CNRD ? que, no máximo em setembro ou outubro, haverá uma sentença. O Atlético deve ser condenado a nos pagar.

Como eu disse no caso do Atlético Mineiro: nós vendemos parcelado, confiando na credibilidade da família Menin, grandes empresários do estado de Minas Gerais. Não vimos problema em vender um jogador a prazo. Mas chega o dia do pagamento... e você não recebe.

O contato com o Atlético Mineiro para obter um posicionamento sobre o assunto não resultou em resposta até o momento da publicação desta reportagem.

Grêmio: O Débito "Ridículo" por Pepê

A situação envolvendo o Grêmio foi categorizada pelo dirigente do Cuiabá como "ridícula". O valor devido, referente à transferência de Pepê, deveria ter sido repassado ao Cuiabá após o clube gaúcho receber sua parcela de uma negociação com o Vitória. Apesar de o Grêmio ter recebido o montante em março, a parte cabível ao Cuiabá, cerca de 120 mil dólares (correspondendo a 40% dos 300 mil dólares aos quais o clube tem direito), não foi quitada. O Grêmio, por sua vez, argumentou que tentava negociar um parcelamento com o Cuiabá, mas a decisão do time mato-grossense de acionar a CNRD fez com que o clube gaúcho passasse a aguardar a sentença judicial para efetuar o pagamento.

Temos também a situação do Grêmio, que é ridícula ? vou usar a mesma palavra que usei em relação ao Corinthians. O Grêmio recebeu o valor do Vitória no dia 15 de março e deveria ter repassado a nossa parte. Eram cerca de 120 mil dólares, dos 300 mil que temos direito (40%), e não nos pagaram.

Santos: A Inadimplência pela Venda de Joaquim

A dívida do Santos, aproximando-se dos 16,3 milhões de reais, está ligada à última parcela da venda do zagueiro Joaquim e a outras parcelas relativas a uma transação com o Tigres, do México. O pagamento deveria ter sido efetuado em janeiro, mas não ocorreu. O Cuiabá tentou diversas vezes um acordo, sem sucesso em obter qualquer retorno do Santos, o que levou ao acionamento da CNRD. O Santos reconheceu a existência da dívida, afirmando que ela está registrada em seu balanço financeiro, mas indicou que a quitação só será possível após o avanço do caso nas vias judiciais.

O Santos nos deve R$ 16,3 milhões, aproximadamente. Esse valor se refere à última parcela da venda do Joaquim, além das parcelas relativas à negociação com o Tigres, do México. Eles deveriam ter nos pagado em janeiro. Não pagaram. Tentamos várias vezes um acordo, mas não conseguimos nenhum retorno do Santos. Por isso, acionamos a CNRD.

Corinthians: O Maior Débito e o Plano de Pagamento

A maior das pendências é com o Corinthians, totalizando quase 18,5 milhões de reais, referentes à aquisição do volante Raniele. Segundo Cristiano Dresch, o pagamento da primeira parcela do plano coletivo estabelecido na CNRD está agendado para o dia 17 de julho. O Corinthians, procurado para comentar o assunto, informou que daria um retorno, mas não se posicionou até o fechamento desta matéria.

Nós temos hoje quatro clubes que nos devem. O Corinthians deve R$ 18 milhões ? quase R$ 18,5 milhões ? para o Cuiabá. Está previsto para nos pagar em julho, no dia 17. Vence a primeira parcela do plano coletivo que eles fizeram na CNRD.

Panorama Consolidado das Dívidas por Clube

Para ilustrar a dimensão das pendências, segue um resumo dos valores devidos:

A situação delineada pelo presidente Dresch evidencia um desafio crucial para os clubes em desenvolvimento no futebol brasileiro. Enquanto as grandes agremiações frequentemente estampam as manchetes com seus investimentos e contratações, a realidade de clubes como o Cuiabá é de uma batalha constante para cumprir suas obrigações, muitas vezes comprometendo seu próprio avanço, em razão da inadimplência de terceiros. A irritação do dirigente é palpável, sublinhando a disparidade de cenários e a urgência de uma maior responsabilidade e ética nas interações entre os clubes.