Ancelotti e Atlético-MG: Relembre os Duelos Inesquecíveis e o Reencontro na Arena MRV

Neste domingo, a Arena MRV receberá um visitante ilustre: Carlo Ancelotti, o renomado técnico da seleção brasileira, que acompanhará de perto a performance dos jogadores do Atlético-MG no embate contra o Grêmio, a partir das 16h (horário de Brasília). Contudo, a relação de Ancelotti com o Alvinegro transcende o mero papel de observador, mergulhando nas profundezas da história do futebol, onde ele já esteve em campo como adversário do Galo em amistosos memoráveis da década de 1980.

Ancelotti e o Galo: Uma História Revisitada

O mais recente desses duelos completa quatro décadas justamente nesta segunda-feira. Em 18 de agosto de 1985, o Atlético encerrava sua jornada por terras europeias confrontando a Roma no icônico Estádio Olímpico, na capital italiana. A equipe mineira vinha de uma série de resultados mistos, com vitórias sobre o Athletic Bilbao (3 a 1) e o Cádiz (3 a 2), ambos da Espanha, e reveses diante de potências como o Ajax (4 a 1) e o Barcelona (3 a 1).

A expectativa para o embate com a Roma era imensa, marcada pelo aguardado reencontro do Atlético com Toninho Cerezo, que havia sido transferido para o clube italiano dois anos antes. Lamentavelmente, o talentoso volante, acometido por uma gripe, não pôde entrar em campo. Nos bastidores, o clima no Galo era de efervescência. O então presidente Elias Kalil planejava a negociação de ícones como Reinaldo e Éder, ambos inclusive afastados do amistoso contra a Roma.

Reportagens da época, como a do Estado de Minas de 19 de agosto de 1985, indicavam que Kalil almejava uma troca com o Flamengo, envolvendo a dupla de atacantes por Andrade, Bebeto e Adílio. No desfecho, Éder acabou se transferindo para a Inter de Limeira, enquanto Reinaldo só rumaria para o Palmeiras em 1986. A partida contra a Roma também tinha um componente financeiro relevante, ligado à venda de Cerezo, concretizada em 1983. O clube mineiro, conforme noticiado, recebeu a última parcela do acordo.

?O clube mineiro recebeu a última cota de 200 mil dólares - cerca de Cr$ 160 milhões - do Roma pela venda de Toninho Cerezo.?

Em campo, o espetáculo foi de muitos gols. O Estado de Minas, em sua edição de 19 de agosto de 1985, descreveu o confronto como um Futebol alegre e 8 gols na partida de despedida. Contudo, a partida não esteve isenta de controvérsias. O jornal apontou que o primeiro e o quarto gols italianos, no empate por 4 a 4, teriam se originado de lances de impedimento. A insatisfação atleticana culminou na expulsão de Olivera por reclamação. O juiz ajudou o Roma, sentenciou a publicação.

O Épico Duelo de 1985: Galo x Roma

A Roma, que enfrentava um período de pressão por resultados insatisfatórios na temporada, abriu o placar com Pruzzo. O Atlético, por sua vez, demonstrou poder de reação, virando o jogo ainda no primeiro tempo com gols de Olivera e Alisson. Foi nesse cenário que a figura de Carlo Ancelotti se destacou. Aos 26 anos, Carletto já era um meio-campista consolidado, com conquistas pela Roma e em rota para a Copa do Mundo de 1986 pela seleção italiana. Sua contribuição foi decisiva para o empate romano.

"O Roma empatou aos 22 minutos. Olivera não conseguiu cortar um passe de Ancelotti para Tovalieri, que completou forte, de pé direito." (Estado de Minas, 19 de agosto de 1985)

Ainda para o Atlético, Nelinho e Olivera, novamente, balançaram as redes. Pelo lado da Roma, Conti, campeão mundial em 1982, e Boniek, lendário atacante polonês, foram os responsáveis por selar o placar final em um emocionante 4 a 4.

Ficha Técnica: Roma 4 x 4 Atlético - 1985

A Despedida de Cerezo e o Jogo de 1983

Dois anos antes, em 1983, o Atlético já havia cruzado o caminho de Ancelotti, também em um amistoso no Estádio Olímpico, que marcou a oficialização da venda de Toninho Cerezo. O meio-campista, revelado pelo Galo e destinado a uma carreira brilhante no futebol italiano, vestiu as camisas de ambos os clubes no jogo, simbolizando sua despedida do Atlético e sua apresentação à Roma. A emoção tomou conta do atleta, que, segundo relatos, entrou chorando em campo, vestindo a camisa e o calção do Atlético, mas com as meias vermelhas do uniforme da Roma.

Na homenagem, Cerezo iniciou a partida com a camisa alvinegra por apenas um minuto. O momento gerou uma cena inusitada e até cômica, conforme o jornal, pois aquele minuto seria apenas para a celebração, sem disputa real pela bola. O jogo propriamente dito só começaria após Cerezo trocar o uniforme do Galo pelo da Roma. No entanto, houve um desentendimento com os italianos.

"O Roma atacou, a defesa do Atlético parou e Graziani marcou. (...) O gol não existiu, pois a partida somente começou após a festa de despedida de Toninho Cerezo. Houve uma certa confusão, depois reparada e compreendida por todos." (Estado de Minas, 19 de agosto de 1983)

Tudo isso se desenrolava sob o olhar atento de Ancelotti, que ganhava espaço na equipe devido à ausência de Falcão. Em campo, a Roma, então campeã italiana, rapidamente abriu 2 a 0, com gols de Conti e Graziani. O atual treinador da Seleção Brasileira teve participação direta em ambos os lances.

"A jogada foi pela esquerda, com Ancelotti", detalhou o Estado de Minas em 19 de agosto de 1983, sobre o primeiro gol. No segundo, a atuação de Ancelotti foi elogiada como "ótimo": "Sempre pela esquerda, o Roma contra-atacou com o ótimo Ancelotti, número 4. Ele foi até a linha de fundo e, mesmo sob combate de Salvador, conseguiu cruzar. De frente para o gol, na linha da pequena área, sem nenhuma marcação, o sempre oportunista Graziani, número 11, chutou à direita de João Leite e fez o segundo gol aos 12 minutos". (Estado de Minas, 19 de agosto de 1983)

O Atlético, com garra, conseguiu o empate com gols de Nelinho e Paulinho Kiss.

Ficha Técnica: Roma x Atlético - 1983

Ancelotti no Presente: Olhar Atento na Arena MRV

Quarenta anos após esses confrontos históricos, Carlo Ancelotti reencontra o Atlético, agora em solo mineiro, na moderna Arena MRV. Sua presença neste domingo não é apenas uma formalidade; como técnico da seleção brasileira, ele terá um olhar minucioso sobre talentos do Galo como Everson, Lyanco e Hulk, potenciais nomes para futuras convocações.

Além do compromisso profissional, Ancelotti terá um breve contato com Belo Horizonte, uma cidade que ele manifestou interesse em conhecer no Brasil, por indicação de seu ex-companheiro de Roma, Toninho Cerezo.

- Obviamente, quero conhecer o Rio de Janeiro. (...) Depois conhecer São Paulo, Belo Horizonte. Cerezo me falava de Belo Horizonte. (...) Quero estar aqui para trabalhar aqui, conhecer a estrutura do futebol brasileiro e aproveitar o país - afirmou Carletto ao ge, logo após assumir a seleção brasileira.

O ex-lateral Nelinho, que esteve em campo contra Ancelotti e marcou gols naqueles amistosos da década de 1980, demonstra grande confiança no trabalho do italiano à frente da Seleção Brasileira.

- Esse cara (Ancelotti) tem experiência grande em dirigir craques. Ele sabe conduzir um grupo de jogadores diferenciados. Isso não é para qualquer um. Ele vai chegar na seleção brasileira e terá de fazer essa gestão. O ambiente será bom. É um dos caminhos para o sucesso - disse Nelinho ao ge.