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Alisson Santana: Das Chuteiras Emprestadas aos Bunkers na Ucrânia – O Legado do Ex-Galo

Por Redação FutGalo em 10/07/2025 06:12

A vida de Alisson Santana, ex-jogador do Atlético-MG e hoje peça-chave no Shakhtar Donetsk, representa um fascinante estudo de contrastes. Ao desembarcar na residência de sua família em Gravataí, Rio Grande do Sul, a visão de uma abundância de calçados novos contrasta drasticamente com a memória de um início de carreira marcado pela privação. Em seus primeiros passos no futebol, o jovem atacante chegava aos campos apenas com meias, aguardando pacientemente que algum colega finalizasse seu treino para então poder calçar um par emprestado. O que antes era uma carência absoluta, hoje se manifesta como uma realidade de fartura.

Em um período de pouco mais de um ano, Alisson emergiu nas categorias de base do Atlético-MG, realizou sua estreia no elenco profissional e, em um movimento surpreendente, tornou-se a terceira maior transação da história do clube mineiro ao ser negociado com o Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Sua nova realidade, contudo, é moldada pelo cenário de conflito na região, que impõe situações singulares como a necessidade de pernoitar em abrigos subterrâneos e a constante incerteza sobre a chegada de seus familiares.

Mesmo diante de tais adversidades, o jovem de 19 anos mantém um otimismo notável. Ele relata a experiência de conviver com os sinais de alerta e a estrutura de proteção oferecida pelo hotel e pelo próprio clube ucraniano, que dispõe de bunkers para hóspedes e atletas.

? Já ouvi sirene. Mas tem uma estrutura bem protegida no hotel. Tem bunker para os hóspedes e para o clube. A gente tem a escolha de ficar no quarto ou no bunker, mas já ficamos no bunker. Os moleques falaram que já tiveram que descer para o bunker na madrugada e a gente não quer passar por isso. Joga um dominó, fica nas resenhas ? explicou.

A Ascensão Meteórica e o Conflito Ucraniano

Desde os 14 anos nas fileiras do Atlético-MG, Alisson, ao retornar para sua cidade natal, ainda desfruta de um certo anonimato, circulando com facilidade entre Cachoeirinha, Gravataí e Porto Alegre. Ele valoriza as férias no Rio Grande do Sul, mesmo após viagens internacionais, um reflexo de ter deixado o lar aos 13 anos para um projeto em Joinville, Santa Catarina, indicado pelo pai de um amigo.

Apesar de ainda não ser amplamente reconhecido em seu estado de origem, Alisson Santana consolida sua relevância no futebol europeu. Sua venda pelo Galo, em março, por 14 milhões de euros (equivalente a R$ 88 milhões na época), já se traduziu em conquistas significativas. No Shakhtar Donetsk, ele foi campeão da Copa da Ucrânia, contribuindo com um gol crucial na semifinal e uma assistência na decisão, além de converter um pênalti na disputa de pênaltis. Antes disso, havia erguido o troféu do Sul-Americano com a Seleção Brasileira Sub-20. O futuro, em sua visão, aponta para a Premier League.

A reflexão sobre sua jornada é permeada por um profundo senso de orgulho. Ele reconhece a dificuldade do caminho percorrido e a resiliência exigida para superar cada obstáculo, contrastando a realidade de outrora, onde observava colegas adquirindo chuteiras de última geração, com sua atual posição de receber os lançamentos das grandes marcas.

? Muito orgulhoso de ter aguentado mesmo, porque é muito difícil, as pessoas esquecem às vezes do que passamos. Eu talvez nem lembre de outros sacrifícios, que eu só vivi e não sabia a gravidade. A Nike lançava uma chuteira, os moleques já compravam, e eu pensava: "essa deve ser boa". Hoje a Nike lança uma chuteira, eu vou receber também. Claro que quero subir muito mais, mas tenho muito orgulho do que conquistei e do que estou me tornando ? disse.

Das Chuteiras Emprestadas à Abundância Atual

A história das chuteiras emprestadas é um capítulo marcante em sua vida, mais presente na memória de seus entes queridos do que na sua própria. Alisson recorda a carência de calçados devido às condições financeiras de sua família, o que o levava a aguardar do lado de fora do campo por um par emprestado. Em determinado momento, comovidos com sua situação, os pais de seus companheiros de equipe se uniram em uma "vaquinha" para adquirir o material necessário para o jovem.

Alisson, com uma perspectiva pragmática, minimiza o impacto daquela privação, focando em sua paixão pelo jogo.

? Eu não lembro muito, porque para mim não era muito um problema, eu só queria jogar e esperar a minha vez para jogar. Mas sim, já teve dias que eu tive que esperar os moleques terminar o treino para sobrar uma chuteira para mim e eu treinar ? contou.

A realidade atual de Alisson contrasta fortemente com seu passado. Ele recebe carregamentos de calçados novos, uma demonstração tangível de sua ascensão. Essa nova condição, embora não seja recente, ainda o emociona profundamente a cada nova remessa.

? Eu lembro que os pais (dos companheiros) fizeram uma vaquinha para comprar uma chuteira para mim. Eu lembro que o pai desse meu amigo me levou um dia no shopping para comprar uma chuteira. Eu sempre tive dificuldade, a gente não tinha dinheiro para comprar essas coisas. Mas sempre tive uma ajuda ali de um ou outro. Graças a Deus hoje tenho bastante chuteira ? riu.

Parcerias Essenciais e a Chegada ao Galo

A família de Alisson sempre foi um pilar fundamental em sua jornada no futebol, com sua mãe, Márcia, e seu padrasto, Evair, dedicando-se para acompanhá-lo. Contudo, a figura de Otoniel, pai de um colega e amigo duradouro, desempenhou um papel decisivo. Além de sua contribuição na "vaquinha", Otoniel identificou o talento de Alisson e, ao ser contatado pelo empresário André Kovalski, indicou o jovem e outros garotos para um projeto em Santa Catarina. Aos 13 anos, Alisson, sem plena consciência, estava traçando o rumo de seu futuro.

O atacante expressa uma profunda gratidão a Otoniel, reconhecendo a amplitude de sua ajuda.

? O pai desse atleta fez muita coisa por mim. Não só ter me indicado, mas me dava chuteira porque eu era um dos mais pobres da equipe. Não tinha chuteira para jogar e não tinha carona para ir. Ele sempre fazia muita coisa por mim e isso foi só mais uma das ajudas que ele me fez e sou grato até hoje. O filho dele é meu amigo até hoje e vou levar para sempre ? comentou.

Aproximadamente sete meses em Joinville representaram uma experiência crucial, um período de afastamento de casa que serviu como aprendizado para os desafios futuros. Seu destaque em torneios despertou o interesse de clubes como Atlético-MG e Grêmio. Enquanto o clube gaúcho propunha um período de teste de três meses, o destino de Alisson foi o Galo, que ofereceu uma oportunidade mais direta.

Em Belo Horizonte, a realidade se transformou: televisão no quarto, banheiro privativo, cinco refeições diárias ? luxos antes inatingíveis. Sua ascensão nas categorias de base foi notavelmente rápida, culminando na proximidade com o elenco profissional . A geração de Alisson, marcada pela pandemia, teve uma formação atípica, com poucas partidas na categoria sub-20 antes de ser integrada ao time principal, ao lado de nomes como Hulk.

O Legado no Atlético-MG e a Ambição Futura

A transição de Alisson para o time principal do Atlético-MG foi célere. Lançado em 2023 por Felipão, então técnico do clube, ele rapidamente conquistou a torcida. Em 2024, sob o comando de Gabriel Milito, foi um dos atletas mais utilizados, tornando-se o jogador mais jovem a iniciar uma partida do Atlético-MG na Conmebol Libertadores e o segundo mais jovem a marcar um gol na competição, aos 18 anos, 8 meses e 7 dias, superado apenas por Savinho.

Ele descreve a convivência com os experientes jogadores do Galo, como Hulk , que serviram de exemplo e mentores.

? Tinha muito cara muito respeitado no futebol, a gente fica meio assim de chegar e já querer tomar o lugar dos caras. Mas os caras sempre me ajudaram bastante, me ensinaram muito. O Hulk , muito exemplo, eu não conversava muito com ele porque ficava meio receoso, mas ele era muito gente boa, tudo que a gente vê pela internet ele é pessoalmente.

Alisson reflete com orgulho sobre sua passagem pelo Atlético-MG e sua saída, que o posicionou como a terceira maior venda do clube, mas expressa a ambição de superar essa marca no futuro.

? Tenho muita saudade de jogar no Galo. Me orgulho (de ser a 3ª maior venda do Galo), mas acredito que possa um dia valer muito mais. E pode ter gente do Galo que vai passar. É bem legal entrar na história, mas não dá para parar por aí.

O Sonho do Retorno e as Raízes Gaúchas

A carreira de Alisson não teve um desenvolvimento significativo em clubes de seu estado natal, o Rio Grande do Sul. Embora tenha passado por escolinhas do Cruzeiro em Cachoeirinha e realizado um teste no Internacional aos 11 anos, sem aprovação, e o Grêmio tenha demonstrado interesse antes de sua ida para o Galo, sua trajetória profissional se consolidou fora do sul do país.

Ele comenta, com bom humor, a diferença de reconhecimento entre Belo Horizonte e sua terra natal.

? Sempre que eu saía em BH, o pessoal vinha tirar foto. Aqui (RS) não é assim, eu saio de boa, ninguém me conhece. Aqui eu não tirei foto com ninguém (risos). Mas não troco Porto Alegre por nada.

Apesar de seu foco atual na Premier League, Alisson não esconde o desejo de, no futuro, defender um dos grandes clubes gaúchos, vislumbrando um cenário ideal para o final de sua carreira, a partir dos 30 anos.

? Sou torcedor do Galo, mas sou torcedor aqui no Rio Grande do Sul também, então tenho o sonho de jogar aqui, mas lá na frente, pelos 30, 35 anos. Quero fazer uma carreira fora, por ser um futebol do mais alto nível, mas tenho o sonho de voltar, sim ? reconheceu.

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Clara

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Comentado em 10/07/2025 10:32 Esse mlk saiu da luta com chuteira emprestada pro topo do mundo, dava até vontade de rir kkkk
Paulo

Paulo

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Comentado em 10/07/2025 08:21 Alisson é brabo demais, futuro garantido no Galo!
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