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Sampaoli no Atlético-MG: Tática Brilhante vs. Relações Turbulentas

Por Redação FutGalo em 03/09/2025 03:13

Jorge Sampaoli, um nome que invariavelmente provoca intensos debates, está novamente sob os holofotes do cenário futebolístico brasileiro, especialmente com a iminente possibilidade de um retorno ao Atlético Mineiro. O técnico argentino, reconhecido por sua abordagem tática inovadora e sua capacidade de extrair o máximo de suas equipes em campo, também carrega consigo a fama de uma personalidade complexa nos bastidores. Sua primeira passagem pelo Galo foi um microcosmo dessa dualidade, deixando marcas profundas tanto nos resultados quanto nas relações interpessoais.

A figura de Sampaoli raramente passa despercebida. Para além dos gramados, onde seu trabalho é frequentemente exaltado, sua conduta extracampo tem sido alvo de observações e críticas. Com a perspectiva de iniciar uma segunda jornada no clube mineiro, o treinador reencontrará indivíduos que conviveram de perto com ele em sua experiência anterior, e cujas percepções variam do reconhecimento profissional à discordância pessoal.

Jogadores, ex-dirigentes e membros da comissão técnica que testemunharam o dia a dia sob o comando de Sampaoli no Atlético-MG compartilharam relatos que pintam um quadro multifacetado. As narrativas abordam desde a meticulosidade de seu plano de jogo até os desafios impostos por sua metodologia e temperamento no ambiente de trabalho.

A Complexa Personalidade de Sampaoli no Galo

Um dos depoimentos mais reveladores sobre a dificuldade de relacionamento veio do ex-lateral Fábio Santos, que atuou sob Sampaoli em 2020. Ele descreveu uma experiência de distanciamento, que beirava o inusitado:

Fiquei quatro meses dando bom dia para ele. Depois do quarto mês eu desisti, pô. Ele olha pra você e não fala "bom dia". O que esse baixinho tá arrumando? (...) Falei para os caras que ele chegava a ser engraçado de tão insuportável que ele era. Ele chega a ser engraçado. Você fala, esse cara deve estar de sacanagem, não é possível.

Essa percepção ilustra um aspecto da conduta do argentino que gerou desconforto em alguns membros do elenco.

Corroborando a visão de um ambiente por vezes tenso fora das quatro linhas, Éder Aleixo, ex-jogador e atual integrante da comissão técnica fixa do Atlético, que trabalhou com Sampaoli em 2020, destacou a qualidade do trabalho em campo, mas apontou problemas na convivência:

O trabalho dele aqui, dentro de campo, foi muito bom. Nós não reclamamos do trabalho dele. Fora de campo, tinha problemas comigo, do auxiliar técnico, do supervisor. Ele nos proibiu de participar dos treinamentos. Ficamos um mês sem poder participar. Se o treino era na parte de cima do CT, a gente tinha que ficar na parte de baixo. Depois, ele veio perguntar sobre o que eu fazia. Então, ele disse que eu poderia ir para o treino. Após um mês. Ele tinha situações complicadas fora do campo. Nunca falei mal dentro do campo. Agora, fora, extrapolava um pouquinho, até nos afasta desse treinamento.

O relato de Éder sugere uma gestão de equipe que, em certos momentos, beirava a imposição e o isolamento de membros da própria estrutura do clube.

Mesmo jogadores que não chegaram a trabalhar diretamente com Sampaoli, mas que integraram o elenco na transição, captaram a atmosfera. Hulk, por exemplo, revelou ter ouvido sobre a personalidade do técnico:

Eu estava mais fazendo a parte física. O Brasileiro acabou se estendendo mais. Às vezes (deixava ver o treino). Estava eu e Dodô, treinando a parte física. Não sei se procede ou não. O Keno, depois de um tempo, falou que todo mundo ama ele como treinador, um cara que entende muito de bola, mas como pessoa um pouco difícil. O Keno falou que ele (Sampaoli) comentou com ele que não sabia como iria fazer, mas que eu não jogaria com ele. Eu nem treinei com ele. Os caras falavam que ele era assim, ele mandava contratar jogador e não usava jogador.

Essa perspectiva de Hulk , baseada em conversas com colegas, reforça a imagem de um treinador cujo gênio tático era inquestionável, mas que apresentava desafios consideráveis no trato pessoal e na gestão de recursos humanos.

O Divisor de Águas Tático e Humano

Contudo, o impacto de Sampaoli no Atlético não se limitou às tensões nos bastidores. Rubens Menin, um dos principais investidores e atual dono da SAF do Atlético, reconheceu o papel fundamental do argentino em um momento crucial para o clube:

Nenhum técnico e jogador bom queria vir. O Atlético tinha fama de não pagar, atrasar salário, comprava e não pagava. A primeira grande virada foi quando o Sampaoli veio. A gente tem que ser franco, ele foi o primeiro técnico muito bom que veio. Fez um bom trabalho, ajudou em contratações.

A avaliação de Menin sublinha a capacidade de Sampaoli de atrair talentos e de iniciar uma transformação no patamar do clube, apesar das peculiaridades de sua personalidade.

Domenico, ex-diretor de comunicação que trabalhou com o treinador, ofereceu uma visão prognóstica sobre o retorno de Sampaoli ao futebol brasileiro, ressaltando a necessidade de adaptação:

Se ele mudou, tem tudo para dar certo. É bom treinador. Agora, se ele é o mesmo que saiu daqui, do Galo, tem tudo para dar errado. Vestiário lá é formado de ?cobras criadas?. Ele precisará de bom ambiente. Tem que chegar mais ?pianinho? ou, na minha opinião, podem fritá-lo.

Este comentário, feito quando Sampaoli foi anunciado pelo Flamengo, serve como um alerta sobre a complexidade do ambiente de um grande clube e a exigência de uma gestão de vestiário mais apaziguadora.

Controvérsias e o Impacto da Pandemia em 2020

A temporada de 2020, embora marcada por um futebol envolvente em vários momentos, terminou sem o título do Campeonato Brasileiro. Sérgio Sette Câmara, então presidente do Atlético, apontou um fator externo como determinante para o desfecho:

A gente perdeu o campeonato naquele momento que a comissão técnica pegou Covid. Não tenho dúvida nenhuma, porque foram todos (da comissão) e parte do time também pegou Covid. Fui para o CT, aquele clima. Houve uma quebra de confiança e também, o time jogou muito desfalcado.

A declaração de Sette Câmara ecoa a percepção de que a pandemia de Covid-19, com o impacto direto na saúde da comissão e de atletas, desestabilizou a equipe em um momento crucial da disputa pelo título.

A narrativa do próprio Sampaoli sobre a perda do título de 2020 converge com a de Sette Câmara, atribuindo à pandemia um papel central na frustração das ambições do Galo. A interrupção do ritmo de trabalho e a ausência de peças-chave em momentos decisivos são frequentemente citadas como fatores que impediram o sucesso final.

O Legado de Sampaoli: Entre Elogios e Ressalvas

Apesar das controvérsias e do desfecho sem taças naquele ano, a despedida de Sampaoli do Atlético foi marcada por um gesto de reconhecimento por parte da diretoria. Sérgio Coelho, atual presidente do clube, expressou gratidão no momento da partida do técnico:

Sampaoli, aqui está uma lembrança grandiosa, porque é a camisa do Galo, em gratidão ao seu trabalho no nosso Clube Atlético Mineiro, no nosso Galo. Gostaríamos que você levasse com muito carinho, para onde você for. Para França, para Argentina. Que coloque ela num quadro, pra sempre lembrar da sua família que, a partir de hoje, tenho certeza que também será o Clube Atlético Mineiro. Receba todos os nossos agradecimentos, e (a camisa) com o número aí de 45 jogos. Muito obrigado e seja feliz. Vá com Deus. Quem sabe num futuro nós não encontraremos novamente.

As palavras de Coelho, proferidas na GaloTV, refletem um agradecimento pelo esforço e pela contribuição tática, mesmo diante das complexidades da gestão.

A possível segunda passagem de Jorge Sampaoli pelo Atlético-MG, portanto, carrega consigo um histórico de contrastes. De um lado, a admiração pela sua inteligência tática e a capacidade de revolucionar o jogo; do outro, os desafios inerentes à sua personalidade e à gestão de um grupo de alto rendimento. Seu retorno, se confirmado, será acompanhado por uma lupa atenta, não apenas sobre o desempenho em campo, mas também sobre a evolução de sua postura nos bastidores, em um clube que anseia por títulos e por estabilidade.

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Comentado em 03/09/2025 05:21 Sampaoli é brabo, só falta ajustar o vestiário rsrs
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