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Drubscky no Galo: Vestiário Explosivo com Valdir Bigode e a Tensão de 2004 Reveladas

Por Redação FutGalo em 20/08/2025 12:02

A trajetória de Ricardo Drubscky no cenário do futebol brasileiro é marcada por uma notável versatilidade. Com mais de quatro décadas dedicadas ao esporte, ele transita entre as funções de preparador físico, auxiliar técnico, coordenador, diretor esportivo e treinador. Este profissional multifacetado, também autor de obras literárias, compartilha agora um panorama de sua rica carreira, destacando momentos cruciais e desafios superados.

Drubscky expressa uma entrega profunda ao futebol, que muitas vezes se sobrepôs até mesmo aos momentos familiares mais íntimos. Sua paixão é evidente ao relatar o impacto do esporte em sua vida pessoal. Segundo ele, o futebol se tornou uma prioridade constante:

- Eu vivo o futebol de uma maneira ativa. Eu falo com a minha esposa, que foi quem criou meus filhos. Eu não tive a oportunidade de assistir o parto de nenhum dos três por causa de beira do campo. Minha vida é o futebol e a família. O futebol ganhou muitas vezes. Muito mais vezes que a família porque eu me entreguei muito. O que essa mulher aguentou de mim depois de uma derrota. Eu estava preocupado com a porcaria do resultado.

O Conflito no Vestiário Alvinegro: Valdir Bigode em 1999

A gestão de um grupo de atletas, notadamente um vestiário repleto de personalidades e egos, representa um dos maiores desafios para qualquer comandante técnico. Em 1999, durante sua passagem pelo Atlético-MG, Ricardo Drubscky enfrentou uma situação de indisciplina marcante envolvendo o então atacante Valdir Bigode. O incidente, ocorrido no Centro Esportivo Universitário (CEU), em Belo Horizonte, quase culminou em uma altercação física entre os dois.

Drubscky relata que a intolerância do jogador e a falta de respaldo institucional agravaram a situação. Ele enfatiza que sua postura visava a disciplina e a defesa dos interesses do clube diante de uma "indisciplina violenta" por parte do atleta. O confronto escalou rapidamente:

- O jogador foi intolerante. Ele interferiu muito. Eu, com o meu jeito de querer disciplinar, não tive o respaldo que eu merecia. Eu estava defendendo o clube. O jogador cometeu uma indisciplina violenta. Nós íamos sair para o braço. Ele veio e eu fui. Ele começou a falar algumas coisas lá, mas coisas que diziam respeito só a ele. Eu questionei. Ele veio para cima. Nós começamos e aí separaram.

Apesar da gravidade do episódio, a punição esperada por Drubscky não se concretizou. Ele percebeu que a diretoria da época priorizava a possibilidade de uma futura venda do jogador, o que, em sua visão, refletia uma falha sistêmica. O desfecho da situação, segundo o ex-diretor, ilustra a complexidade e as imperfeições inerentes ao sistema do futebol:

- Então assim, a única coisa que eu queria era que ele fosse punido. No último lance, eu tive a certeza que eu tinha que colocar ele para jogar e que não iam punir porque ele era o jogador que ia ser vendido. Ele não foi vendido e ainda levou o Atlético na justiça e ainda levou não sei quantos milhões na justiça. Isso é o sistema. Eu não culpo o presidente na época. Não culpo diretoria. Não culpo nem o jogador.

Drubscky no Galo: Vestiário Explosivo com Valdir Bigode e a Tensão de 2004 Reveladas
Foto: (Infoesporte)

A Tensa Campanha de 2004 no Galo: Flertando com o Rebaixamento

A experiência de Ricardo Drubscky como diretor de futebol do Atlético-MG em 2004 foi marcada por um período de extrema pressão. Naquela temporada, o clube mineiro esteve em risco de rebaixamento, e a tensão era palpável. Drubscky recorda que a situação era tão crítica que, após os jogos fora de casa, ele precisava se apressar para retornar ao lar, a fim de evitar hostilidades por parte de torcedores insatisfeitos. Esse cenário, em sua análise, evidencia fragilidades estruturais no futebol nacional.

- No Atlético Mineiro em 2004, eu fui subir para o profissional como diretor. Subi porque estavam sem diretor porque tinham mandado um diretor embora. E aí, eu fiquei três meses. Quase caiu. No último jogo contra o São Caetano ganhou no Mineirão e não caiu. Mas foi um suplício. A gente chegava de madrugada de jogo fora e tinha que ir correndo para casa para não apanhar na rua. Duas da manhã ligando para esposa correndo para abrir a porta logo. Isso é o cúmulo. Se não mudarmos essas coisas, esse detalhezinho da ética do treinador é uma mentira. É uma mentira do caramba. Os treinadores vão ser contactados. Vão ligar. Plano B. Plano C. Vai sempre existir enquanto for dessa forma.

A Fragilidade da Posição do Treinador no Futebol Brasileiro

A gestão de vestiários e a instabilidade na carreira de um treinador são temas recorrentes nas reflexões de Ricardo Drubscky. Ele aponta que a fragilidade da figura do técnico no Brasil permite que conflitos internos, como os observados em outros clubes, se manifestem. Quando os jogadores percebem essa vulnerabilidade, a insatisfação pode surgir e minar a autoridade do comandante. Para Drubscky, o respeito ao treinador como figura central é fundamental, e a competência deve ser validada através da metodologia de trabalho e da capacidade de implementação de uma ideia de jogo.

A demissão no vestiário do Villa Nova-MG, após apenas quatro jogos em janeiro, é um exemplo contundente da volatilidade que permeia a profissão. Após uma goleada sofrida por 6 a 1 para o Athletic, Drubscky foi informado de sua dispensa, um fato inédito em seus mais de 40 anos de carreira. Ele lamenta a crueldade do sistema, especialmente quando um substituto já estaria apalavrado antes mesmo do término da partida.

- Eu fiquei sabendo muito objetivamente que na minha queda do Villa, antes de acabar o jogo com o Athletic, já tinha se contratado outro treinador. Foi o que motivou ele nos mandar embora no vestiário. É uma situação muito triste. Eu acho que mandar treinador embora com dois meses de trabalho já é um descalabro. Mandar no vestiário eu acho que tempera ainda mais a malvadeza do futebol brasileiro, a perversidade do futebol brasileiro. Foi muito chato. Eu fico feliz que com 43 anos de bola foi acontecer só agora isso comigo. Foi a primeira vez. Mas é muito chato.

O episódio no Athletico Paranaense em 2012, onde o nome de um possível substituto já circulava antes de sua saída, reforça a percepção de um sistema perverso. Drubscky insiste que a culpa não reside nos dirigentes ou nos próprios treinadores, mas sim na estrutura que fomenta a constante busca por "planos B" e "planos C" em um mercado saturado de profissionais desempregados.

O Olhar de um Revelador: A Descoberta de Gilberto Silva

Em meio às complexidades do futebol, Drubscky também celebra momentos de grande satisfação, como a descoberta de talentos. A ascensão de Gilberto Silva, ex-volante da seleção brasileira, é motivo de orgulho para o técnico. Gilberto Silva chegou ao América-MG para um teste com o perfil de um atleta desacreditado, já tendo sido reprovado em categorias de base e no limite da idade para o sub-20. No entanto, Drubscky percebeu algo singular no jovem, apesar de sua timidez e discrição: a precisão cirúrgica em campo.

- Eu falava com meu preparador físico, que era o Enderson Moreira. Enderson, esse menino não erra. O tempo de bola dele para roubar bola no pé do adversário. O jogo aéreo dele. A tranquilidade dele com a bola no pé. Na minha opinião, ele foi decisivíssimo em 2002 quando ele entra no lugar do Juninho e faz com Kleberson a dupla de volantes. Além da qualidade de saída de bola, deu estabilidade ao time e o time cresceu assustadoramente na Copa de 2002. O Arsène Wenger fala dele com um carinho muito grande. Ele tinha o apelido de ser um paredão invisível pelo perfil de jogo dele. Ele não é aquele cara que dá um carrinho e trinca os dentes. Ele chega ali, rouba a bola e toma fulano. Ele é fantástico. Esse camarada me deu um orgulho muito grande de ter participado dessa trajetória com ele.

Outra revelação notável foi Maxwell, que, sob a direção de Drubscky na base do Cruzeiro, teve sua venda para o Ajax facilitada, mudando drasticamente seu patamar financeiro e profissional.

Triunfo Inesperado: A Conquista da Série D com o Tupi em 2011

A conquista do Campeonato Brasileiro da Série D de 2011 com o Tupi representa um marco na carreira de Ricardo Drubscky, sendo seu primeiro título nacional e também o do clube. Ele descreve essa campanha como um "case" a ser admirado, mas não replicado, dada a realidade financeira da equipe. O elenco, de baixo custo, superou adversários com orçamentos significativamente maiores, como o Santa Cruz, finalista da competição. A chave para o sucesso, segundo Drubscky, foi o acolhimento da diretoria, o ambiente positivo e a união do grupo.

- O nosso elenco era baratíssimo. Era jogador de 1.500, 2.000 (reais). Meu craque ganhava 6.500. Nós tínhamos times naquele campeonato, inclusive o finalista Santa Cruz, com orçamento muito maior. Mas tinha tudo que precisava. O Tupi é uma marca que fica. Até hoje recebo gente de Juiz de Fora me ligando. O título pelo Tupi foi fantástico. É campeão nacional. A gente carregando o bastão é muito legal e foi determinante. A partir do momento que vou disputar uma Série D e sou campeão brasileiro, eu vou jogar com uma porrada de time que é tudo Série D também. Um grau de dificuldade muito grande.

Apesar das condições simples, o comprometimento de todos, desde a comissão técnica até as tias da cozinha, foi fundamental para o êxito. Muitos atletas daquele grupo ascenderam para divisões superiores, validando o trabalho realizado.

Legado e Influências: Mentores e a Seleção Ideal de Drubscky

Ao longo de sua vasta experiência, Ricardo Drubscky teve a oportunidade de trabalhar com e observar grandes nomes do futebol. Sua filosofia como "professor" no campo ecoa a de Carlos Alberto Parreira. Ele destaca três grandes mentores que moldaram sua visão:

  • **Carlos Alberto Silva (Primo):** Um líder com mais de 50 títulos, que dirigiu seleções e grandes clubes, sendo uma inspiração pessoal desde a infância.
  • **Telê Santana:** Admirado pela coerência de seu discurso, fair play e a escola de futebol que implementava, mesmo com métodos de treino distintos dos atuais.
  • **Pep Guardiola:** Considerado por Drubscky como o treinador que "transformou o futebol" e "mudou o jogo" a partir de 2008, no Barcelona.

Drubscky também montou sua "Seleção Ideal" com jogadores que comandou, e respondeu a um "bate-pronto" sobre sua carreira:

Seleção Ideal de Ricardo Drubscky

Posição Titular Reservas (entre parênteses)
Goleiro Diego Alves (Gomes)
Lateral Direito Mancini (Maicon)
Zagueiro Cris (Clebão)
Zagueiro Luizão (Léo Pereira)
Lateral Esquerdo Sorín (Maxwell)
Volante Gilberto Silva (Ramires)
Meia Toninho Cerezo (Gerson)
Meia Palhinha
Atacante Paulo Izidoro
Atacante Cláudio Adão (Fred e Oséas)
Atacante Marques (Fábio Júnior e Alex Mineiro)

Bate-pronto com Ricardo Drubscky

Tópico Resposta
Ídolo da sua infância? Carlos Alberto Silva.
Maior amigo no futebol? Enderson Moreira.
Melhor dirigente que você trabalhou junto? Eduardo Maluf.
Título mais importante? Série D de 2011 com o Tupi.
Derrota mais dolorida? Empate contra o Grêmio pelo Athletico Paranaense (2013), após três empates consecutivos.
Maior arrependimento da carreira? Ter migrado de diretor para treinador, o que o tirou um pouco do foco do mercado.
Time que você mais temia enfrentar? O Flamengo, tanto na base quanto no profissional.
Qual o maior clássico que você passou? Fla-Flu.
Maior craque que você treinou? Cerezo.
Maior craque você enfrentou? Romário, Deco.
Jogador mais resenha que você comandou no vestiário? Serginho (Democrata de Sete Lagoas) e Maurição (Ipiranga de Manhuaçu).
Jogador líder de vestiário que mais te ajudou? Luan (Itabirito) e Ratinho (Tupi em 2011).
Principal jogador que você revelou? Gilberto Silva.
Estádio mais bonito que já passou? Arena Corinthians, Arena de Brasília.
Pior estádio que passou? Evita citar, mas há muitos em condições precárias.
Torcida que faz mais diferença em campo (a favor ou contra)? Corinthians, Atlético Mineiro e Flamengo.

Uma Carreira Dedicada: Paixão e Perspectivas Futuras

Apesar de ter atuado em praticamente todas as áreas do futebol, Ricardo Drubscky mantém a convicção de que ainda há muito a conquistar. Sua paixão pelo jogo é inabalável, e ele almeja novos desafios em grandes clubes, buscando mais títulos para sua coleção. Ele ressalta que, independentemente da divisão, a dificuldade é sempre elevada.

- Como falei lá atrás, não existe campeonato mais ou menos difícil. A partir do momento que vou disputar uma Série D e sou campeão brasileiro, eu vou jogar com uma porrada de time que é tudo Série D também. Nós explicamos bem o que era o Tupi. Então assim, às vezes até é um Série D até menos diferenciado. Um grau de dificuldade muito grande. Eu quero ainda conquistar muita coisa. Eu vivo o futebol de uma maneira ativa. Eu falo com a minha esposa, que foi quem criou meus filhos. Eu não tive a oportunidade de assistir o parto de nenhum dos três por causa de beira do campo. Minha vida é o futebol e a família. O futebol ganhou muitas vezes. Muita mais vezes que a família porque eu me entreguei muito. O que essa mulher aguentou de mim depois de uma derrota. Eu estava preocupado com a porcaria do resultado. Eu quero muita coisa ainda.

Sua trajetória, marcada por conquistas como a Copa São Paulo de 1996 com o América-MG e a Série B de 2017 como diretor do mesmo clube, demonstra uma capacidade de adaptação e sucesso em diferentes contextos. Drubscky se orgulha de sua constante busca por atualização, afirmando ser um "coroa muito atualizado" que está sempre buscando crescer. Sua dedicação ao futebol e sua visão crítica sobre o sistema o posicionam como uma voz experiente e relevante no cenário esportivo.

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