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Atlético-MG e a Altitude: Bolívar Contesta Estratégia e Revela Parceria City Group
Por Redação FutGalo em 17/09/2025 05:43
O Desafio da Altitude: Estratégias e Percepções em La Paz
O Atlético-MG, em sua jornada pela Copa Sul-Americana, adota uma tática já empregada pela seleção brasileira: pernoitar em Santa Cruz de la Sierra e subir a La Paz apenas horas antes do confronto. Esta abordagem visa atenuar os efeitos dos 3.650 metros de altitude. Contudo, para o Bolívar, adversário do Galo, essa estratégia pode ser um equívoco.
Eduardo Valdívia, gerente do Bolívar, oferece uma perspectiva incisiva sobre o tema. "Os efeitos da altitude estão aqui", declarou ao UOL, indicando a própria cabeça. Ele argumenta que o impacto é predominantemente psicológico, superando o físico. A redução de oxigênio provoca uma respiração mais intensa, gerando uma sensação de fadiga que, segundo Valdívia, é mais um reflexo do corpo do que uma exaustão real. A chave, para ele, reside em "saber jogar na altitude".
Clubes que não se preparam adequadamente, sem treinar por alguns dias no local, sofrem particularmente com a velocidade da bola e as diferenças ambientais, assustando goleiros e jogadores. Valdívia é categórico: "Para mim, o melhor que um time que vem para cá pode fazer é treinar dois ou três dias antes do jogo".
A teoria de que os efeitos da altitude são menos sentidos nas horas iniciais é a base para a estratégia de clubes brasileiros, incluindo o Atlético Mineiro. No entanto, a realidade em campo frequentemente diverge. Talvez, como sugere o dirigente boliviano, o componente psicológico da viagem desempenhe um papel crucial.
Bolívar: Protagonismo e a Influência do Estilo City
O técnico argentino do Bolívar, Flavio Robatto, também conversou com o UOL em La Paz, reforçando a visão de seu clube. "Nós sequer trabalhamos o fator da altitude quando preparamos uma partida. Preferimos focar no nosso jogo e atuar da mesma maneira, com protagonismo, dentro e fora de casa", garantiu. Ele reconhece que "É algo que os brasileiros sentem muito, os argentinos até mais, e realmente acho que existe um componente psicológico importante".
Robatto, que chegou ao Bolívar após passagens pelo Nacional de Potosí, foi uma escolha da diretoria alinhada ao "estilo City" de jogo. Embora o Bolívar não seja uma filial do Manchester City como o Bahia, o clube boliviano mantém uma parceria estratégica com a agremiação inglesa, buscando absorver sua filosofia e metodologia.
A história dessa aliança remonta a 2008, quando o Bolívar enfrentava sérias dificuldades financeiras. Marcelo Claure, um empresário bem-sucedido, interveio, criando um grupo de investimento com um contrato de 20 anos com o clube. Posteriormente, Claure assumiu a presidência e, no final de 2020, selou um acordo de cinco anos com o Grupo City, que se encerrará nos próximos meses.
Claure é uma figura multifacetada, com atuação em tecnologia (vice-presidente da Shein, conselheiro da T-Mobile nos EUA) e futebol (sócio do City no Girona e no New York City, além de ter colaborado com David Beckham na criação do Inter Miami). Apesar do contrato com o City Group estar próximo do fim, os diretores do Bolívar não preveem riscos de não renovação. A natureza da parceria é clara: o clube boliviano paga pela consultoria e o conhecimento do conglomerado dos Emirados Árabes Unidos, não o contrário.
Plano Centenário: A Revolução Estrutural e a Ambição Esportiva
O "know-how" do City é o motor do "Plano Centenário", um projeto ambicioso lançado por Claure há cinco anos, com o objetivo de culminar em 2025, ano do centenário do Bolívar. Eduardo Valdívia detalha os quatro pilares fundamentais dessa iniciativa:
- Buscar a auto-suficiência econômica, meta alcançada desde o ano passado.
- Criar uma infraestrutura de ponta.
- Formar jogadores seguindo o modelo City em suas academias.
- Atingir sucesso esportivo, almejando uma final continental.
A dedicação à infraestrutura é evidente no Centro de Alto Rendimento (CT), localizado a 40 minutos do centro de La Paz, a 3.100 metros de altitude. Visitado pelo UOL, o CT impressiona por sua modernidade, comparável aos melhores do Brasil, com três campos (dois naturais, um artificial), vestiários com dimensões recomendadas pela consultoria do City, salas de ginástica, recuperação física e descanso para atletas, além de equipamentos completos para análise de desempenho e scouting.
O técnico Robatto expressa seu entusiasmo: "O Bolívar tem todas as ferramentas que precisa um time profissional, é um luxo vir todos os dias trabalhar em um lugar assim". A visão é clara: "A ideia é que o Bolívar não possa só participar, mas competir. Hoje, estamos a anos-luz do futebol brasileiro, mas dentro de campo temos conseguido competir, ganhar algumas fora de casa. Lamentavelmente agora vamos pegar uma pedreira, jogar contra um clube muito grande (o Atlético Mineiro ), mas sabemos que podemos competir de igual para igual, com nossas armas, e isso é motivo de orgulho para nós."
Além do CT de primeira linha, o clube estabeleceu uma academia de futebol em Santa Cruz de la Sierra, reconhecida como celeiro de talentos. No capítulo de estrutura, o Bolívar está erguendo um novo estádio próximo ao centro de La Paz, no local do antigo centro de treinamentos. A previsão é inaugurar a moderna arena para 17 mil pessoas no final do próximo ano, concretizando o sonho da casa própria.
O Legado e o Confronto com o Galo: A Busca pela Glória Continental
Robatto e Valdívia relatam que, apesar das disparidades orçamentárias em relação aos clubes brasileiros, o Bolívar capitaliza a rede de olheiros e informações do Grupo City. "Tanto para tirar jogadores de concorrentes de outros países do continente quanto para atrair jogadores que olham como uma grande oportunidade para a chance de estar no universo City", explica o gerente. "Eles veem aqui a possibilidade de um salto para Manchester ou, por que não, para o Bahia".
Em meio a todo esse progresso, os resultados esportivos são inegociáveis, conforme Valdívia. "Temos 31 títulos nacionais, que é a soma dos dois competidores mais próximos (16 do Strongest, 15 do Jorge Wilstermann), então ganhar sempre está em nosso DNA. Mas nós queremos muito um título internacional".
A história continental do Bolívar inclui semifinais da Libertadores em 1986 e 2014, além de um vice-campeonato da Copa Sul-Americana em 2004. Mais recentemente, o clube obteve vitórias contra Flamengo e Palmeiras, eliminou o Athletico-PR de uma Libertadores e impôs dificuldades ao Internacional nas quartas de final de 2023. A equipe tem demonstrado consistência em competições continentais, e agora, no ano de seu Centenário, enfrenta o Atlético-MG em busca de uma glória inédita.
O técnico Robatto projeta o confronto com o Atlético-MG: "Tudo o que estudamos serve para pouco, já que o Atlético será outro time com Sampaoli". Ele reconhece a qualidade do adversário: "Hulk segue sendo a alma e de qualquer maneira é um time com grandes jogadores. A pressão está toda do lado deles, mas tentaremos fazer um bom resultado em casa para termos chances nas eliminatórias".
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